Fonte Jornal Eletrônico 247
Lobão acaba de falar ao 247. Ele está no Rio de Janeiro, onde lança, nesta segunda, na Livraria da Travessa, seu livro "Manifesto do Nada na Terra do Nunca". O plano inicial da editora era vender 150 mil exemplares, repetindo o sucesso de biografia "50 anos a mil", escrita com o jornalista Claudio Julio Tognolli. "Mas agora acho que vamos vender 600 ou 700 mil", diz ele.
Deu certo então o plano de causar polêmica para promover um novo produto cultural? Ou, como disse o rapper Mano Brown, dos Racionais, de "agir como puta para vender livro"?
Na verdade, Lobão não está exatamente feliz com o barulho criado em torno do livro. "Nem se eu fosse um gênio do marketing saberia como fazer isso acontecer", afirma. O artista se diz até assustado com as reações extremadas que seu manifesto tem despertado. "Isso prova que nunca houve tanta patrulha ideológica no Brasil como agora", afirma. "Nem na ditadura".
Aos que o criticam, o atacam, o aplaudem e até o ignoram ele faz apenas um pedido: "Leiam o livro". A ele, Lobão diz ter dedicado oito meses de estudo e de pesquisa. "É sarcástico, engraçado e até agressivo, mas ele tem uma missão central: é quase um manual amoroso de como conviver com os adversários", afirma. "No Brasil de hoje querem silenciar qualquer divergência".
Lobão se diz vítima de um "ódio irracional" e garante não ter pronunciado a frase que causou toda a celeuma: a de que a presidente Dilma Rousseff teria sido uma "torturadora". "Pode chacoalhar o livro que você não vai encontrar", diz ele. "E também não disse isso à Folha".
- Mas e se aparecer a fita, Lobão? - pergunta o 247.
- Não vai aparecer. Eu sei do que eu falei.
Lobão se diz contra todo tipo de ditadura, incluindo o regime militar no Brasil, mas afirma que a presidente Dilma poderia, de fato, prestar uma "gentileza à verdade", contando como foi sua participação na luta armada. "Se ela instituiu uma comissão da verdade, por que não falar do seu passado? Até com orgulho, se for o caso".
Assim como ela, Lobão também se considera um preso político, por ter sido encarcerado, por mais de três meses, durante o governo do presidente José Sarney. "Sofri uma violência do Estado, enfrentei 132 processos, cheguei até a andar com algemas esperando sempre a próxima prisão. E qual o motivo? Diziam que eu era um mal social. Era uma perseguição tenebrosa".
Das críticas, Lobão se diz incomodado com aqueles que não leram seu livro e tentam "despotencializar o autor e o discurso", apontando supostos problemas mentais, ressentimentos ou rancores. "Sei dos riscos que enfrentei e o que eu preciso agora é de coragem e temperança apenas".
Dizendo-se ex-petista, Lobão afirma que já fez campanha por Lula e que, por mais de uma década, esteve, de uma forma ou de outra, associado ao partido. "Quando vi todos esses esquemas, pulei fora". Embora reconheça que o Brasil tenha progredido nos últimos anos, diz que o Brasil não é o paraíso econômico-social vendido na propaganda. "As ruas estão imundas, a violência impera e há pobreza por todo lado", diz ele. "Eu estou sim indignado e acho que, aos poucos, a maioria silenciosa vai começar a se manifestar".
Segundo Lobão, a reação a seu livro demonstra apenas a "força telúrica" do seu manifesto. O artista diz que tentou ir ao evento recente com a blogueira Yoani Sánchez em São Paulo e quase foi linchado por, simplesmente, estar lá. "Não fui para concordar, fui para ouvir e passei a ser agredido por essas hostes", diz ele.
- Você teme ser qualificado como reacionário?, indaga o 247
- Estou apenas indignado. E quis dar vazão a esse sentimento.
Lobão se diz sozinho em sua empreitada. Mas guarda a frase de Robert Louis Stevenson: "a man of courage makes a majority".
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