APÓS A MORTE DO CANDIDATO EDUARDO CAMPO AÉCIO NEVES É DESAFIADO A VENCER GOVERNISMO E COMOÇÃO
Presidenciável
do PSDB atravessou a campanha eleitoral distribuindo elogios e afagos a Eduardo
Campos, mas agora pode ser o mais prejudicado pela ausência do adversário; à
esquerda, Aécio Neves esbarra no espaço ocupado pela presidente Dilma Rousseff,
do PT, que chegava a cerca de 40% das preferências nas pesquisas anteriores ao
acidente aéreo que vitimou o líder do PSB; por outro lado, tucano corre o risco
de ser acossado pela maré de emoção que pode beneficiar futuro candidato
socialista; especialmente se escolha recair sobre Marina Silva; no novo quadro
em que antigas certezas ruíram e os efeitos da tragédia ainda não foram
dimensionados, Aécio enfrenta o desafio de ser reconhecido como herdeiro de
parte do legado do amigo; discurso que frisa a expressão "nova
política" tem a finalidade de mostrar que "a velha política"
está nos outros; vai dar certo?
O
presidenciável Aécio Neves, do PSDB, está diante de uma equação política capaz
de desafiar toda a sua experiência de mais de 30 anos de vida pública. Enquanto
os efeitos eleitorais da morte trágica do ex-governador Eduardo Campos ainda
não foram dimensionados em pesquisas de opinião, ninguém sabe ao certo, o
tucano entre estes, qual será a nova distribuição de preferências do público.
Após a primeira aferição, haverá, ainda, todo o horário eleitoral político para
dar margem a mais mudanças. E, nestas, haverá um peso extra caso a atual vice
na chapa de Campos, Marina Silva, vier a ser escolhida para substituir o cabeça
de chapa ausente. É senso comum que, sendo Marina o nome, o componente
emocional entrará em definitivo na eleição.
Até a morte
de Campos, Aécio Neves foi dele um adversário mais do que cordial. O problema
está em saber como fazer, agora, para que o ex-govenador de Minas Gerais passe
a ser um beneficiário real da proximidade que sempre gostou de exibir com
Campos.
- Não vejo
Eduardo como um adversário, mas como alguém que, lá na frente, estará comigo no
mesmo projeto, disse o tucano, mais de uma vez, sozinho ou ao lado do próprio
Campos, como aconteceu este ano no Fórum Empresarial de Comandatuba, diante de
líderes da iniciativa privada.
Ao contrário
de Campos, que preservava a amizade pessoal com Aécio, mas disparava farpas na
direção do PSDB para crescer eleitoralmente, o mineiro destinou toda a sua
munição para disparos contra o PT e a ex-presidente Dilma Rousseff. Aécio fez
questão de não fazer qualquer ataque ao socialista, ao partido que ele presidia
ou às suas propostas de governo. Estava na raiz da estratégia tucana a
manutenção do máximo respeito ao PSB para contar com o apoio de Campos em um
buscado segundo turno.
Agora, no
entanto, o candidato do PSDB está desafiado a não se deixar ficar emparedado
entre duas grandes correntes do eleitorado.
Uma delas é
a governista, que, até o acidente fatal, parecia consolidada em torno da
presidente Dilma, na faixa de 37% a 40% das preferências nas pesquisas mais
recentes.
A outra é a
do voto emocional, que pode se formar em torno de Marina se ela for a
escolhida, ou em benefício de outro nome do PSB que consiga representar o
espólio eleitoral de Campos. Sabe-se, de antemão, que esta segunda hipótese é a
mais difícil de chegar ao resultado projetado.
Em razão de
levantamentos anteriores e da própria eleição de 2010, quando Marina terminou a
disputa com impressionantes, para os observadores, 20% dos votos, a sucessão do
finado Campos em benefício dela parece representar mais risco para Aécio. É
muito provável que, colocada em questão nas pesquisas, Marina apareça com dois
dígitos de preferências. O nome da ex-ministra, sempre que foi confrontado com
o de Campos, apresentava melhor performance que o dele. Ela pode ser
beneficiada, agora, pelo fenômeno da comoção nacional que a morte do
ex-governador de Pernambuco despertou.
Já há pistas
fortes sobre o maneira como Aécio irá resolver a equação. Desde o primeiro
momento, ele vem afirmando que Eduardo represantava "a boa política",
numa clara tentativa para empurrar a "má política" para a conta do PT
e da candidata à reeleição. Significa que a tática de preservar de críticas o
PSB irá continuar, ao mesmo enquanto um novo candidato do partido não vier a
ser definido.
Aécio Neves
vai acentuar, passado o momento de luto, o discurso de ataque ao governo e ao
PT. Dessa maneira, ele acredita que, mesmo que o PSB cresça, também o PSDB
poderá alçar um voo mais alto na nuvem de solidariedade formada com a morte de
Campos. No caso de esse plano dar certo, a maior prejudicada seria a presidente
Dilma. É no que Aécio, neste primeiro momento, vai apostar.
Fonte:
Jornal 247
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