COMO CABRAL DRIBLOU AS RUAS E ELEGEU SEU SUCESSOR NO RIO? COM BAIXA POPULARIDADE CABRAL PASSOU A ATUAR NOS BASTIDORES PARA ELEGER SEU VICE E SEU FILHO , SAIBA MAIS


Agência BrasilAgência Brasil

Com baixa popularidade, Cabral passou a atuar nos bastidores para eleger seu vice e seu filho.

Na mira dos protestos no Rio de Janeiro em junho de 2013, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) deixou o cargo em abril deste ano com o pior índice de aprovação dos sete anos de mandato.

Desgastado, tornou-se completamente invisível na campanha, mas logrou dois feitos. A eleição do antigo vice, Luiz Fernando Pezão, para o governo do Rio, e do filho, Marco Antônio Cabral, como deputado federal, ambos do PMDB.

Como, após tanta turbulência, o ex-governador driblou as ruas e saiu-se "bem sucedido" das eleições, mesmo que indiretamente?

Para os especialistas ouvidos pela BBC Brasil, embora tenham mostrado força ao abalar a imagem de Cabral a ponto de inviabilizar sua candidatura ao Senado, as manifestações não foram obstáculo para que ele interrompesse suas manobras nos bastidores.

Eleito em 2006 e reeleito em 2010 com, respectivamente, 66% e 68% dos votos, Cabral planejava entregar um governo estável ao vice e depois voltar à Brasília, onde já ocupara vaga no Senado.

Desgastado, no entanto, deixou o Palácio Guanabara antes do fim de seu mandato – em abril deste ano - com apenas 20% de popularidade (segundo pesquisa do Datafolha de dezembro de 2013), visando a disputar um cargo no Legislativo.

"Canditatar-se ao Senado era um movimento natural depois de quase oito anos como governador. Mas ele sabia que perderia feio, e desistiu", aponta Ricardo Ismael, doutor em Ciências Políticas pelo Iuperj e pesquisador da PUC-Rio.

Recuo

Ciente das dificuldades, o ex-governador acabou desaparecendo dos holofotes.

Para o professor Eurico Figueiredo, diretor do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF, a manobra pode ter vista como um recuo estratégico.

"Eleger o vice e o filho foi um duplo feito. Ele viu que ajudaria mais sendo invisível e decidiu recuar. Não apareceu nas propagandas de televisão nem em eventos de campanha, mas articulou nos bastidores o apoio da coligação por trás de Pezão, e soube escolher um bom candidato", avalia.

Durante campanha, Pezão se afastou de Cabral e adotou imagem mais popular.

Além da "invisibilidade" e da costura de alianças, Cabral teria sido peça fundamental na orientação da campanha.

Forçada pela baixa popularidade com a qual o ex-governador deixou o cargo, a estratégia de marketing de Pezão foi justamente "descolá-lo" da imagem de Cabral.

Bem sucedida, a campanha contornou até mesmo os constantes ataques dos rivais Anthony Garotinho (PR), Lindbergh Farias (PT) e Marcelo Crivella (PRB), que nos debates tentaram ligar Pezão a Cabral.

As origens interioranas e os hábitos simples de Pezão caíram como uma luva para que a "descolagem" desse certo.

"Cabral passava férias em Paris, Pezão é de Piraí, no interior do Estado. Cabral viajava de helicóptero, Pezão sai caminhando com as pessoas na praça. Para ele vencer, seu marketing político teve que se esforçar em vendê-lo como o anti-Cabral, e foi bem sucedido nisso", diz Ricardo Ismael, da PUC-Rio.

Não aparecer diante das câmeras foi essencial, acredita Eurico Figueiredo, da UFF. "O governo foi bem avaliado, mas o ex-governador não. A estratégia deu certo, e o eleitorado fez essa distinção".

Para Figueiredo, os êxitos de Cabral mostram que seu trânsito e influência na política brasileira continuam fortes.

"É uma espécia de 'quarentena' política. Ele ainda vai ter que esperar mais um pouco para voltar a aparecer. Está recuperando a imagem. Mas eu apostaria que daqui a quatro anos ele se candidate como senador", diz.

"A análise nunca é preta no branco. Ele teve revezes, sim, mas ainda é um político relativamente jovem, tem tempo para voltar à cena. Ele saiu mal avaliado e enfrentou uma longa ocupação diante da sua própria casa, mas tem boas relações com Dilma, Lula, Aécio, além de ser influente no Estado do Rio. É só uma questão de tempo", acrescenta.

Manifestantes

Quem acompanhou de perto os protestos do ano passado se divide ao avaliar o saldo das urnas como "derrota" ou "vitória".

Motivadas por desacordos com políticas do governo estadual, as manifestações ganharam ainda mais força após a resposta de Cabral, que na visão dos manifestantes recusou-se ao diálogo e ordenou forte repressão policial.

"(Foi) uma tremenda derrota: de quem protestou, dos que tiveram direitos violados, dos que se indignaram, e uma vitória do próprio Cabral, pois mesmo escondido durante toda a campanha, foi a ele que Pezão dedicou sua eleição", diz Ricardo Targino, cineasta, ativista e colaborador do coletivo Mídia Ninja.

O militante anarquista Pedro Rios Leão também vê perdas. "Numa visão bem ampla, é uma derrota para a democracia. Mesmo a democracia liberal burguesa. O governo do Sérgio Cabral botou as pessoas nas ruas porque de modo escancarado não deu nenhum espaço democrático para a oposição", diz.

Já Bruno Ruivo, integrante do Movimento Universidade em Debate da PUC-Rio, acredita que a desistência da vaga ao Senado é algo que os manifestantes deveriam comemorar.

"Eu considero uma grande vitória das ruas. Ele queria ter deixado o governo bem antes de abril deste ano, para dar mais capital ao Pezão, mais tempo de inaugurar obras, mas não pôde, para evitar passar a impressão de que estaria renunciando por pressão dos protestos que exigiam sua saída", disse.

Para o produtor de vídeo e ativista Rafael Puetter o que preocupa é a continuidade. "Para mim há uma continuidade exata, sem ruptura alguma. Os protestos inviabilizaram os planos de Cabral, e sua presença diante das câmeras seria ruim para ele e para o partido, mas Pezão representa a continuidade de todos os problemas atribuídos ao governo dos dois", opina.

No domingo do segundo turno, o protesto supostamente organizado pelo grupo Anonymous RJ, diante do Palácio Guanabara, indica, na visão dos manifestantes, um "sinal do que está por vir" .

"A intenção é não deixar os movimentos morrerem. A preparação para as Olimpíadas inclui uma agenda de remoções forçadas, de leis autoritárias. Vai ser um ano muito difícil para os nossos governantes", diz Bruno Ruivo.


FONTE:http://www.bbc.co.uk/

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