SOBRE QUEBRA DO SIGILO INQUÉRITO DO LAVA JATO PELO MINISTRO TEORI ZAVASCKI COLUNISTA DO JORNAL 247 TEREZA CRUVINEL DIZ: "O TEMPO QUE VEM AI É DE VACA ESTRANHANDO BEZERRO"



O estrago político feito pela entrega da lista de mandatários que devem ser investigados pelo STF a partir do pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve ser fichinha comparado ao que vai acontecer quando o ministro Teori Zavascki quebrar o sigilo dos inquéritos como está previsto; segundo a colunista do 247 Tereza Cruvinel, "o tempo que vem aí será de vaca estranhando bezerro, num processo que está apenas começando"; para ela, não se sustenta a teoria atribuída a Renan Calheiros (PMDB) e Eduardo Cunha (PMDB), de que teriam sido "empurrados" para a lista de Janot, para o Planalto dividir com o Congresso os danos da Lava Jato; "Renan e Cunha têm experiência suficiente para avaliar que Dilma e seu governo teriam que ser estúpidos demais para entrar num jogo de alto risco como este"; "Só vamos saber se haverá outro grande julgamento político, como o do mensalão, quando Janot optar por uma denúncia coletiva"; enquanto as denúncias não vêm, o Congresso aguarda Teori Zavascki

Fonte: Jornal 247 

Se antes da cortina do sigilo ser levanta a lista de Janot já produziu tamanho estrago político, imagine-se quando o ministro Teori Zavascki divulgar os nomes contra os quais o procurador-geral Rodrigo Janot pediu a abertura de inquéritos. Agora estão todos esperando Zavascki, que promete fazer isso hoje sexta-feira de Congresso vazio: pelo menos não haverá retaliações imediatas de terceiro grau, como a de Renan Calheiros na terça-feira.  Enquanto isso os bombeiros atuam, entre eles o ex-presidente Lula, tentando através de emissários convencer Renan e Eduardo Cunha que não houve a conspiração palaciana que os teria “empurrado" para dentro da lista. O fim do sigilo deve trazer alguma distensão política.

Mas ninguém se iluda: o tempo que vem aí será de vaca estranhando bezerro,  num processo que está apenas começando. Só vamos saber, por exemplo, se haverá outro grande julgamento político, como o do mensalão, lá na frente, quando Janot optar por uma denúncia coletiva como a de Roberto Gurgel, ou por várias denúncias individuais. Neste último caso os julgamentos se diluirão no tempo, reduzindo as repercussões políticas.

O levantamento do sigilo jogará luz sobre a fumaceira que está no ar desde terça-feira. Nem por isso, as coisas ficarão melhores mas já estaremos tratando com fatos, não com versões ou boatos. A lista oficial trará elementos que vão fortalecer ou enfraquecer a teoria conspiratória segundo a qual – na leitura de Cunha e Renan – o Planalto atuou para que fossem incluídos.  Uma suposição que, de resto, ofende o procurador-geral. A isso ele se refere muito sutilmente em sua carta aos colegas do Ministério Público, quando diz: “Não guardo o dom de prever o futuro, mas possuo experiência bastante para compreender como a parte disfuncional do sistema político comporta-se ao enfrentar uma atuação vigorosa do Ministério Público no combate à corrupção. Não acredito que esses dias de turbulência política fomentarão investidas que busquem diminuir o Ministério Público brasileiro, desnaturar o seu trabalho ou desqualificar os seus membros. Mas devemos estar unidos e fortes.” Cunha e Renan o desqualificam quando dizem que foram empurrados para dentro da lista pelo Planalto para dividirem com o Congresso os danos sofridos com a Operação Lava Jato.

Relativamente ao papel de Dilma (ou auxiliares) será estranho que, tendo poder para “empurrar” os notáveis peemedebistas, não o tenha usado para tirar da lista petistas como os ex-ministros Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo (se a inclusão deles também for confirmada).

Renan e Cunha têm experiência suficiente para avaliar que Dilma e seu governo teriam que ser estúpidos demais para entrar num jogo de alto risco como este. Um governo com alta necessidade de recompor sua base e garantir a governabilidade no meio de uma crise política e econômica estaria brincando na beira do abismo com tal jogada. Na política há espaço para enganos e autoenganos de todo tamanho mas a lógica não endossa a teoria conspiratória. Ainda que tivesse havido tal espúria negociação, Janot só poderia poupar nomes – como fez com Dilma e Aécio –  não “empurrar” pessoas contra as quais não houvesse indícios.

Suposição por suposição, pode-se dizer, com base na experiência dos anos recentes, que Renan nunca segurou a alça do caixão de ninguém. Sempre pulou do barco antes que a água subisse. Afastou-se de Collor em tempo, deixou de ser ministro de FH quando a impopularidade apontou para a mudança de 2002. Contou com o apoio de Lula e do PT quando enfrentou o chamado “Renangate”, em que foi acusado de ter despesas de pensão alimentícia pagas por uma empreiteira. Agora, estaria preparando um desembarque que o preservaria para novas alianças – já virou herói do PSDB – e ainda o colocaria no papel de vítima, deslocando-o do círculo das maldições em torno do PT e do governo Dilma.

O que vem pela frente?

No melhor cenário, PT e PMDB firmam um pacto de convivência e defesa mútua e a vida segue, mas com muita turbulência, pois o moinho da CPI vai produzir fatos que vão engrossar os inquéritos agora abertos.

No pior, a situação política desanda para valer e contamina também a economia, com a inviabilização do ajuste fiscal. E o país pagará caro, muito caro, pelos erros de sua elite política.

Comentários

VEJA AS DEZ POSTAGENS MAIS VISITADAS NOS ÚLTIMOS 7 (SETE), DIAS